Zanetti M. Os Animais Como Recurso Didático Nas Aulas de Medicina Veterinária: Estudo Em Universidades Do Estado Do Paraná. Federal Univerty of Parana. 2010


Abstract

Buscou-se um diagnóstico atual quanto aos instrumentos didáticos utilizados nas aulas práticas no ensino da Medicina Veterinária e a repercussão da sua influência na formação do aluno, para além da prática profissional, especialmente quanto ao tipo de experiência que se constitui nas aulas em que ocorre a participação de animais. Para isso, realizou-se a aproximação empírica com cinco universidades do Estado do Paraná, que ofertam o curso de Medicina Veterinária, contando com a colaboração de 21 professores e 554 alunos, nas disciplinas de Farmacologia, Fisiologia, Anestesiologia e Técnica Cirúrgica. O instrumento de coleta de informações utilizado foi o questionário semi-aberto, um específico para os professores e outro específico para os alunos. As análises quantitativas e qualitativas dos elementos e evidências resultantes da pesquisa empírica permitem dizer que a participação de animais no ensino da Medicina Veterinária ocorre em todas as disciplinas pesquisadas e é considerada essencial para a dequada formação profissional, pela grande maioria dos sujeitos participantes da pesquisa – 79,1% dos alunos e 61,9% dos professores. Porém, o seu uso indiscriminado têm sido considerado um problema ético, mesmo por muitos dos que afirmam a sua necessidade sem ressalvas, sendo evidenciado pelo surgimento de uma nova ética em relação aos seres sencientes, impondo mudanças nas formas como os seres humanos têm tratado os animais. As formas de participação dos animais no ensino de Medicina Veterinária carecem de definições claras para o estabelecimento de objetivos e recomendações éticas quanto ao seu emprego didático, sugerindo-se o uso dos termos “participação prejudicial” e “participação não prejudicial” dos animais no ensino. A participação prejudicial dos animais nas aulas práticas revelou-se uma experiência predominantemente negativa para a maioria dos alunos, os quais apontam a ocorrência de estresse e/ou sofrimento dos animais antes, durante ou após a realização das aulas, revelando o desenvolvimento de entimentos negativos e sinais de dessensibilização. Cerca da metade dos alunos relata a ocorrência de algum grau de comprometimento do aprendizado quando há a percepção de dor ou sofrimento do animal nas aulas práticas. Em contrapartida, os resultados obtidos permitem pressupor que o aprendizado sobre senciência e bem-estar animal e as aulas que utilizam métodos substitutivos, incluindo a participação não rejudicial de animais, apontam o desenvolvimento de uma maior sensibilidade dos alunos em relação ao sofrimento dos seres vivos e evitam sentimentos negativos relacionados à participação prejudicial dos animais no ensino, revelando-se uma experiência positiva de interação humano-animal. Dentre as disciplinas pesquisadas nas universidades colaboradoras, 83,3% utilizam algum método substitutivo em alguma aula, sendo que 33,3% dessas disciplinas não envolvem mais a participação prejudicial de animais no ensino. Esse resultado pode ser considerado como um ponto positivo da investigação, refletindo sinais de mudança na postura dos professores em relação a uma maior consideração moral para com os animais, indicando a possibilidade de se estabelecer um ensino humanitário na Medicina Veterinária.





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